sábado, março 27

Entrevistas sobre Supervisão - Isabela Coutinho Santos

por André Rossi e Edimárcio Medeiros.

Para iniciar nosso projeto de Blogger apresentaremos aos leitores uma série de entrevistas. Convidaremos alguns profissionais, que mantém uma relação estreita com a temática para falarem de sua experiência em supervisão clínica. Pretendemos discutir alguns pontos em especial, como: Portaria 1174, do Ministério da Saúde; a função do Supervisor; as estratégias grupais de supervisão, entre outras coisas.Claro que contamos com os comentários de vocês para fazer avançar a discussão sobre o tema.

Trazemos nesse momento a entrevista de Isabela Coutinho, que gentilmente respondeu nosso questionário. Isabela é Psicóloga, Acompanhante Terapêutica e Especialista em Educação e Reeducação Psicomotoras. Além disso, atuou como Supervisora Clínica Institucional do CAPS - Pedra Bonita - Itaboraí. Continue lendo e conheça um pouco mais do trabalho desta Integrante do GT9 que, entre outras atividades, mantém um dispositivo semanal de supervisão em grupo autogestivo.
Desde já agradecemos aos leitores e se quiserem entrar em contato com a nossa entrevistada, deixe seu recado após a entrevista.

Questionário Café com Clínica

1-Fale um pouco de sua experiência de supervisor e supervisionando em clínica.
Minha primeira experiência de supervisão aconteceu num estágio extra-curricular com orientação psicanalítica, em 1999. Éramos 6 estagiários, e a supervisão acontecia em grupo. Naquela época a função de supervisão era ocupada majoritariamente pela profissional que coordenava o estágio. Creio que isso acontecia em parte pela nossa inexperiência e desconhecimento da possibilidade de nos afirmar enquanto supervisores, em parte por conta da dinâmica de trabalho proposta pela psicóloga que não contemplava isso. Entre 2000 e 2004 passei por outros estágios extra-curriculares e um estágio curricular com diretriz esquizoanalítica. Todas essas supervisões eram grupais. Nesses espaços foi possível experimentar a supervisão como uma função que perpassa todo o grupo sem distinção de lugar, embora cada lugar guarde sua singularidade. Logo depois do término do estágio curricular, que no meu caso não coincidiu com o término da faculdade, comecei a investir numa supervisão em grupo que prescindia da figura do supervisor. Éramos 4 ou 5 pessoas, algumas recém-formadas, outras no final do curso de psicologia (como era o meu caso). Isso aconteceu a partir de 2004 e se estende até hoje com o nome de Grupo de Trabalho dos 9. A partir da experiência adquirida nesta lida, comecei a oferecer o trabalho de supervisão ao público. Também trabalhei como supervisora clínico-institucional de um CAPS, assim como atendi equipes, profissionais e estudantes da psicologia no consultório.
Hoje atendo 2 grupos de supervisão, além de alguns trabalhos pontuais que realizo individualmente de acordo com a disponibilidade do profissional ou estudante que me procura e da diretriz de trabalho traçada nas entrevistas.

2-Você acredita que existe algum diferencial no trabalho de supervisão em grupo?
Sem dúvida. Não se trata de qualificar positivamente ou negativamente cada proposta. Eu mesma atendo alguns profissionais individualmente, dependendo da situação. Faço isso por acreditar que a construção de um grupo está para além das questões numéricas. Por outro lado, é impossível negar a força que um trabalho com mais pessoas exerce, enquanto dispositivo de supervisão. Creio que isso acontece pela riqueza de experiências e afetos que cada integrante do grupo traz para o trabalho, enriquecendo, consequentemente o próprio trabalho. Acho também que nas atividades grupais, há a possibilidade de as identificações e projeções circularem mais, sem necessariamente se fixarem na figura do supervisor (quando há uma). Isso, com certeza, facilita o trabalho.

3-O que você entende por uma supervisão clínico-institucional? Você já teve alguma experiência e poderia falar dela?
Esse termo vem sendo bastante utilizado para descrever o trabalho de supervisão nos CAPS. Acho que é uma maneira de acentuar a clínica, mesmo nos trabalhos ditos institucionais ou organizacionais. Talvez seja uma forma de dizer que uma supervisão numa organização não precisa se ater ao viés administrativo ou mesmo burocrata existente nas instituições. Por outro lado, precisa também cuidar disso, e de toda rede afetiva que se constitui em torno desses trâmites institucionais. Na verdade, acho importante a utilização desse termo como recurso de afirmação da clínica e de todos os seus preceitos nesse tipo de trabalho (acolhimento e intervenção), mas considero que todo o trabalho de supervisão é clínico-institucional. Se recebo um(a) profissional autônomo no meu consultório não posso dizer que estou fazendo um trabalho estritamente clínico, pois os discursos e as práticas daquela pessoa são perpassados por diversas instituições, inclusive a instituição da clínica. Sendo assim, considero todas as experiências de supervisão que venho passando recentemente como supervisões clínico-institucionais.

4- Gostaria de falar mais alguma coisa ou sugerir alguma questão para as pessoas que trabalham com supervisão?
Gostaria de agradecer a escuta e parabenizá-los pelo espaço de discussão.

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