segunda-feira, junho 13

Falando em co-supervisão - Parte I


Conjugando sempre teoria\prática em sua indiscernibilidade trouxemos à vocês a Portaria 154 - 08 que versa sobre o NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família). Ambos podem ser encontrados na aba de Arquivos A ênfase interdisciplinar no cotidiano de trabalho dos profissionais que compõem esses núcleos de matriaciamento às equipes de saúde da famíla (ESF) podem se mostrar uma linha relevante, sobretudo, desafiadora e disparadora para nossa conversa sobre co-supervisão. Sigamos...


Devo dizê-los que a situação dos trabalhadores de saúde em NASFs, Equipes de Saúde da Família , tanto como em CAPS, para circunscrever apenas alguns, é desafiadora e crucialmente vinculada ao cuidado com o cuidador. Ora, quando ressaltamos esse cuidado “com” o cuidador de maneira alguma estaremos limitando o foco de trabalho a uma de suas componentes: como é o caso aqui, digamos assim, do(s) cuidador(es) e do(os) usuário(s). Por sinal já se tornou parte do entendimento de nossa atuação, perspicácia de seu alcance, jamais reservar às pessoas que dispõem dos serviços a parcela de serem meros expectadores ou receptores passivos de uma ação.
Poderia, ao contrário, destacar esse momento agregador, de coletivização, no qual estabelecemos essa “relação com” a partir de quem contatamos e contamos, portanto aos quais acolhemos, e que se diga multiplicadora de laços sociais. Uma diversidade de pontos de uma rede conta com esses laços, que se vejam em movimento, na tessitura de atores. Laços pontuais, em se tratando do “cuidado”, cuja emergência porém diz da eficácia e efetividade de um trabalho que persiste; de um fazer que compreende a crítica como mola propulsora e a crise como circunstância integradora. Tal qual um produto que se mobilize enquanto produtor, em sua insistente condição de publicização, o cuidado vincula as dificuldades encontradas não a ineficácia de uns ou outros. Portanto, digamos que ele não localiza polos estanques como o de quem detém um saber e daquele que padece, mas sim nos convoca para apostar no sentido criador de novos sujeitos em saúde. São saberes em construção e validados por todos que o constituem e integram. Posso falar, circunstancialmente, pautado na atenção básica e garantir que o preceito aqui é que a perseverança de nossa potencialidade está intimamente co-relacionada ao crescimento da qualidade de vida de cada indivíduo que nos cerca.   
Penso que o padecimento, o sofrimento, a doença, podem muito bem dar margem para o ato de compartilhar os processos da vida, ao invés de se sedimentar num simples objeto de uma especialidade, qualquer que seja. E de largada me indago como perseguir a processualidade e autonomia inerentes a cada um de nós sem enfrentar o que vem constrangê-las? Partindo disso faço menção ao nosso dispositivo grupal de supervisão clínico-institucional, e sua disposição com dois co-surpervisores. Montamos com alguns profissionais um serviço que tem colhido a experimentação de variados profissionais, locados em Caps, em Nasfs, entre outros pontos da rede, na intenção de cuidar e acompanhas as linhas da formação e ação de alguns psicólogos no Rio de Janeiro. Esse passo, que é feito à dois entre muitos outros, faz aliança importante com nosso interesse de pesquisa e formação permanentes, já que insira a leitura de textos e a roda de falas sobre casos clínico-institucionais.
Ponto em comum, para localizar algum deles, o desgaste que tem sofrido os trabalhadores frente a inesgotável demanda. Associado a isso surge a necessidade destes profissionais de participar de uma estratégia para pensar o que se torna dúvida no cotidiano dos serviços; de acolher o que subjetivamente também os toca, já que, em se tratando de saúde mental, boa parte desse envolvimento no cuidado pode inseri-los também em vórtices de adoecimento.   A faceta cruel que distancia profissionais e usuários, contribuinte para toda a verticalização dos serviços, a qual não compactuamos, estaria então perpassada inevitavelmente dessa parcela impessoal do adoecimento que se veja concentrada em múltiplas práticas que a particularizam; individualiza-se o que diz de ineficaz nos serviços e resvalam subsumindo muitas das vezes os impasses políticos, perpetuadores  da dor,  numa efetiva atribuição de dificuldades pessoais.  
Digo isso assim, pois o constante afastamento de profissionais de seus pontos de trabalho vem se operando também para que em seus copos haja como se preservar algo de próprio, singular, e se veja em si esse confronto como condição de saúde para os mesmos. Afinal o pior, a permanência destes a despeito do que passam, só denuncia como a sensibilidade e as atitudes derivadas dela se vejam à mercê de efeitos nefastos que transmitem nossos afetos como ancoragem para obstáculos em cada território.
Acredito que, se me faço entender, a maneira como afetamos ou nos vejamos afetados por essa problemática dá pistas sobre o a natureza destes afastamentos. Nem sempre é a impossibilidade e a cronificação de sua potencia, mas justamente assim nos pequenos vacúolos de distanciamento   como tem se tornado o tempo destes que nos procuram para o serviço de supervisão externa. Esses instantes em que retiram de seus salários para reinvestir em modulações de coletivização com a que temos coordenado, reinvestem para continuar a trabalhar. Sinto que isso não é nada trivial de se pensar, mas tem sido intenso e gratificante viver.

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